Carlos Melancia

Carlos Melancia
Carlos Melancia
Carlos Melancia
Ministro(a) de Portugal
Período II Governo Constitucional
  • Ministro da Indústria e Tecnologia
Período IX Governo Constitucional
  • Ministro do Equipamento Social
  • Ministro do Mar
Dados pessoais
Nascimento 21 de agosto de 1927
Alpiarça, Portugal
Morte 23 de outubro de 2022 (95 anos)
Lisboa, Portugal
Profissão Político

Carlos Montez Melancia (em chinês tradicional: 文禮治) (Alpiarça, 21 de Agosto de 1927 – Lisboa, 23 de outubro de 2022) foi um empresário e político português. Ocupou diversos cargos como governador, ministro e deputado.

Biografia

Licenciado em Engenharia Mecânica e Eletrotécnica, trabalhou na Sociedades Reunidas de Fabricações Metálicas (SOREFLAME) até entrar na vida política, em 1976.[1]

Foi nomeado secretário de Estado da Indústria Pesada e da Coordenação Económica do I Governo Constitucional (1976-78), liderado por Mário Soares. No II Governo Constitucional (1978), também liderado por Mário Soares, foi ministro da Indústria e Tecnologia.[1]

Em 1983, regressou às funções governativas, sendo nomeado ministro do Mar (1983-1985) e ministro do Equipamento Social (1985) do IX Governo Constitucional (o chamado governo do Bloco Central), também liderado por Mário Soares. Em 1985, foi eleito deputado à Assembleia da República pelo círculo de Leiria nas listas do Partido Socialista (PS).[1]

Foi governador de Macau de 1987 a 1990, ano em que se demitiu devido ao designado Caso do Fax de Macau, alegadamente por corrupção passiva. Foi ilibado do processo em 1994.[2]

Recebeu, desde o ano de 1998, o equivalente a mais de nove mil euros por mês a título de subvenção mensal vitalícia.[3][4]

Após regressar de Macau, estabeleceu-se como empresário no Alto Alentejo, tendo sido fundador da Fundação Cidade de Ammaia, de que era presidente à data da sua morte, do Golfe de Marvão, do Hotel Garcia de Orta, em Castelo de Vide, e administrador da corticeira Robinson Bros.[5]

Morreu a 23 de outubro de 2022, no Hospital de São José, em Lisboa, onde se encontrava internado.[1]

Processos judiciais

Caso Emaudio / Teledifusão de Macau (TDM)

Durante o mandato como governador de Macau, surgiu também o caso Emaudio / Teledifusão de Macau (TDM). Carlos Melancia era fundador da Emaudio, empresa da qual detinha 5% do capital antes de ser nomeado governador de Macau e que funcionava na órbita da Fundação de Relações Internacionais, uma entidade ligada ao PS, a que a Mário Soares tinha presidido antes de ser eleito Presidente da República. Por decreto de Carlos Melancia, de 1 de fevereiro de 1988, a Teledifusão de Macau (TDM) passou a ter o estatuto de sociedade anónima. Em abril de 1988, foi decretada a prisão preventiva do presidente da TDM, António Ribeiro, e de um administrador da empresa, Leonel Miranda, por suspeita dos crimes de peculato e burla, nomeadamente na aquisição de equipamento eletrónico por parte da TDM, através da viciação das datas dos contratos de aquisição, para que a data de aquisição coincidisse em data anterior à alteração do estatuto jurídico da TDM, de forma a que fosse o Estado a pagar a despesa e não a nova sociedade anónima que tinha passado a gerir a TDM. Em junho de 1988, o Expresso noticiou a participação de Carlos Melancia em reuniões com vista à venda à Emaudio (empresa de que tinha sido fundador), entretanto já propriedade de Robert Maxwell, de 49% do capital da Teledifusão de Macau por um preço mais baixo do que a avaliação oficial do valor da empresa. Carlos Melancia sempre desvalorizou o caso e o presidente da República, Mário Soares, manteve, neste caso, a confiança política em Carlos Melancia. No entanto, em agosto de 1988, foi acordada a venda de parte do capital da TDM a um consórcio de empresas de Hong Kong. Em dezembro de 1988, Carlos Melancia foi ouvido em tribunal na qualidade de declarante, tendo acabado apenas como testemunha da defesa.[6][7]

Caso do Fax de Macau

Em fevereiro de 1990, o jornal O Independente noticia que uma empresa alemã, a Weidleplan, exige a devolução de 50 000 contos alegadamente dados a Carlos Melancia enquanto governador de Macau, no âmbito de uma manifestação de interesse da Weidleplan na consultoria da empreitada de construção do aeroporto de Macau, então uma das maiores obras de engenharia no continente asiático, com um custo estimado de 65 milhões de contos (cerca de 325 milhões de euros). O então procurador-geral da República, Cunha Rodrigues, instaurou de imediato um inquérito a estes indícios ainda em fevereiro de 1990. A Weidleplan chegou ao contacto com Carlos Melancia em março de 1988, através de António Strecht Monteiro, filho de um fundador do PS com boas relações com o presidente da República, Mário Soares, e que colocou a Weidleplan em contacto com Rui Mateus, antigo sócio de Carlos Melancia na Emaudio, chegando assim a empresa ao contacto com Carlos Melancia. Strecht Monteiro e o representante da Weidleplan, Peter Baier, deslocaram-se várias vezes a Macau no sentido de garantir a entrada da Weidleplan no concurso para consultoria da obra do aeroporto de Macau. Carlos Melancia terá exigido 50 000 contos (250 000 euros) em numerário para atender às pretensões da Weidleplan, utilizando parte desse dinheiro para comprar num leilão de antiguidades em Lisboa, e terá dado indicações para o depósito de um cheque de 12 000 contos (60 000 euros) na conta particular da sua esposa, Maria Botelho.[6]

No entanto, as pretensões da Weidleplan saíram goradas, uma vez que a vencedora do concurso para a consultoria da construção do aeroporto de Macau acabou por ser a empresa Aeroportos de Paris. Carlos Melancia tentou que a Weidleplan reduzisse o preço, de modo a sair vencedora do concurso, mas o secretário-adjunto no governo de Macau recusou alterar o vencedor do concurso, ficando então a Weidleplan sem o dinheiro e sem ter alcançado o propósito que pretendia com o pagamento a Carlos Melancia. Carlos Melancia negou esta versão dos acontecimentos, no entanto, acabaria desmentido pela existência de um fax da empresa, datado de 18 de outubro de 1989, a exigir a restituição do montante pago a Carlos Melancia, após o suborno não ter surtido o efeito pretendido para a empresa. A Weidleplan começou por negar a autoria do fax, mas o seu proprietário, Richard Weidle, assumiu a assinatura do fax nas instâncias judiciais competentes. Os sócios da Emaudio - Rui Mateus, João Tito de Morais e Menano do Amaral - acabam por assumir o recebimento do montante de 50 000 contos como "pagamento de serviços prestados".[6]

Em março de 1990, Carlos Melancia é ouvido na comissão parlamentar de Direitos, Liberdades e Garantias e afirma que o fax publicado pel'O Independente não tem fundamento. Contudo, no âmbito da investigação judicial, os inspetores descobrem um cofre guardado num banco em nome de Carlos Melancia, onde constava uma obra de arte no valor de milhares de contos, o que suspeitavam constituir parte do suborno da Weidleplan a Carlos Melancia, que utilizara parte do dinheiro para comprar num leilão de antiguidades, para garantir a vitória no concurso para a consultoria da construção do aeroporto de Macau. Houve também tentativa de comprometer o gabinete do então presidente da República, Mário Soares, ao ser-lhe dado conhecimento do fax enviado pela Weidleplan.[6]

Carlos Melancia acabou por ser levado a julgamento por corrupção passiva, tendo sido absolvido em 1993 pelo tribunal da primeira instância e, após recursos do Ministério Público, pelo Supremo Tribunal de Justiça, já em 2002. Alegou sempre ter sido vítima de chantagem e de uma "máquina judicial" com o propósito de prejudicar a vida das pessoas. Rui Mateus e os dois sócios da Emaudio, João Tito de Morais e Menano do Amaral, foram, no entanto, condenados.[6][8]

Funções políticas exercidas

Referências

  1. a b c d Morreu Carlos Melancia, antigo governador de Macau, Rádio Renascença 24.10.2022
  2. Santos Alves, Jorge (2013). Governadores de Macau. [S.l.]: Livros do Oriente. ISBN 9789993786634 
  3. Renascença. «Carlos Melancia recebe mais de 9 mil euros de pensão vitalícia. São 332 os beneficiários - Renascença». rr.sapo.pt. Consultado em 20 de julho de 2017 
  4. Pereira, Helena; Pereira, Helena. «Quem são os ex-políticos com subvenção vitalícia». Observador. Consultado em 20 de julho de 2017 
  5. Morreu Carlos Melancia, Jornal Alto Alentejo 24.10.2022
  6. a b c d e A Mediatização do Escândalo Político em Portugal no Período Democrático: padrões de cobertura jornalística nos seminários de referência - Tese de doutoramento de Bruno Ricardo Vaz Paixão em Ciências da Comunicação, no ramo de Estudos do Jornalismo, apresentada ao Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
  7. Carlos Melancia no Tribunal da Boa Hora, RTP 20.10.1993
  8. Condenado por violência doméstica o empresário do fax que comprometeu Soares, TSF 04.05.2016
  9. “Biografia” parlamento.pt (consultado em 2020.09.02)

Bibliografia

  • Redacção Quidnovi, com coordenação de José Hermano Saraiva, História de Portugal, Dicionário de Personalidades, Volume XV, Ed. QN-Edição e Conteúdos, S.A., 2004.

Precedido por
Alfredo Nobre da Costa
Ministro da Indústria e Tecnologia
II Governo Constitucional
1978
Sucedido por
Fernando Santos Martins
Precedido por
Basílio Horta
(como ministro da Agricultura, Comércio e Pescas)
Ministro do Mar
IX Governo Constitucional
1983 – 1985
Sucedido por
José de Almeida Serra
Precedido por
João Rosado Correia
Ministro do Equipamento Social
IX Governo Constitucional
1985
Sucedido por
João Maria de Oliveira Martins
(como ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações)
Precedido por
Joaquim Pinto Machado
Governador de Macau
19871991
Sucedido por
Vasco Rocha Vieira
  • v
  • d
  • e
Ministros das Infraestruturas, Ministros das Obras Públicas e Ministros do Equipamento Social de Portugal na Terceira República Portuguesa

Junta de Salvação Nacional Manuel Rocha José Augusto Fernandes • Henrique Oliveira e Sá • Álvaro Veiga de Oliveira João Almeida Pina António Sousa Gomes João Almeida Pina (2.ª vez) Mário de Azevedo João Porto Luís Barbosa José Viana Baptista João Rosado Correia Carlos Melancia • João Maria de Oliveira Martins Joaquim Ferreira do Amaral Henrique Constantino • Francisco Murteira Nabo João Cravinho Jorge Coelho Eduardo Ferro Rodrigues José Sócrates (por delegação de funções) Luís Valente de Oliveira António Carmona Rodrigues António Mexia Mário Lino António Mendonça Pedro Marques Pedro Nuno Santos João Galamba António Costa (por acumulação de funções) Miguel Pinto Luz

Bandeira ministerial portuguesa
<< Segunda República
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  • e
Presidência de António Ramalho Eanes
Primeiro-ministro
Mário Soares, 105.º chefe de governo de Portugal
Ministros
Adjunto do primeiro-ministro
Defesa Nacional
Finanças e do Plano
Administração Interna
Justiça
Reforma Administrativa
Negócios Estrangeiros
Agricultura e Pescas
Habitação e Obras Públicas
Educação e Cultura
Comércio e Turismo
Indústria e Tecnologia
Carlos Melancia
Trabalho
Assuntos Sociais
Transportes e Comunicações
Ministros da República
para as Regiões Autónomas
Açores
Madeira
← I Governo (1976–1978) • III Governo (1978) →
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  • e
Presidência de António Ramalho Eanes
Primeiro-ministro
Mário Soares, 112.º chefe de governo de Portugal
Vice-primeiro-ministro
Carlos Alberto da Mota Pinto (1983–1985) • Rui Machete (1985)
Ministros
Estado
Assuntos Parlamentares
Defesa Nacional
Carlos Alberto da Mota Pinto (1983–1985) • Rui Machete (1985)
Administração Interna
Negócios Estrangeiros
Justiça
Rui Machete (1983–1985) • Mário Raposo (1985)
Finanças e do Plano
Educação
Trabalho e da Segurança Social
Assuntos Sociais
Agricultura, Florestas
e AlimentaçãoA / AgriculturaB
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Indústria e Energia
Comércio e Turismo
Álvaro Barreto (1983–1984) • Joaquim Ferreira do Amaral (1984–1985)
Cultura
Equipamento Social
João Rosado Correia (1983–1985) • Carlos Melancia (1985)
Qualidade de Vida
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Mar
Carlos Melancia (1983–1985) • José de Almeida Serra (1985)
Ministros da República
para as Regiões Autónomas
Açores
Madeira
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Século XVII
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  • Manuel Borges da Silva
  • Álvaro da Silva
  • Manuel Borges da Silva
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  • Pedro Vaz de Sequeira
Século XVIII
  • Diogo de Melo Sampaio
  • Pedro Vaz de Sequeira
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  • Francisco de Melo e Castro
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  • Cristóvão de Severim Manuel
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  • António Moniz Barreto
  • António de Amaral Meneses
  • João do Casal
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  • Diogo Pereira
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  • Diogo Pereira de Castro
  • António de Mendonça Corte-Real
  • José Plácido de Matos Saraiva
  • Diogo Fernandes Salema e Saldanha
  • Rodrigo de Castro
  • Diogo Fernandes Salema e Saldanha
  • Alexandre da Silva Pedrosa Guimarães
  • José Vicente da Silveira Meneses
  • António José da Costa
  • Francisco Xavier de Castro
  • Bernardo Aleixo de Lemos e Faria
  • Francisco Xavier de Mendonça Corte-Real
  • Lázaro da Silva Ferreira & Manuel António Costa Ferreira
  • Vasco Luís Carneiro de Sousa e Faro
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Século XIX
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